sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Egoísta – Dezembro de 2012


Artistas


«Aos Artistas e à Arte dedicamos esta edição natalícia.
Não por aleatória opção: tão simplesmente, porque este Natal será diferente para a maioria dos portugueses compensando-o em afectos no que lhe escasseie em dádivas materiais.
Mas, nem por isso mais pobre: por parcos que os presentes sejam, ficará mais rico em entregas pessoais, em comunhão de sentimentos, em partilha de esperanças.
Ao invés de um declínio material, será um Natal em ascensão espiritual.
Porque nele ressurgirá a celebração do Ser, em detrimento do Ter.
E Ser é o reencontro com nós próprios, com a raiz do que somos, para além do que parecemos ser. Nessa descoberta, qual catarse introspectiva, aprendemos a aceitar a Vida na destrinça entre o essencial e o supérfluo.
Aprendemos, enfim, que cada Ser é um livro onde Deus, Ele próprio, escreve.
Escreve-nos a alma, escreve-nos o espírito, escreve-nos as forças e fraquezas. E, no epílogo desse livro, escreve-nos que o Ser é o último reduto da Natureza onde habitam sentimentos e emoções.
Daí a nossa homenagem aos Artistas, mestres e artífices de estados de alma.
Porque neles o objectivo profundo é dar mais do que aquilo que têm; e, porque neles, coexiste a intima percepção de que nada pode sair do Artista que já não esteja no Homem.
E nesse altar de sentimentos e emoções, nessa angustiante busca nos recônditos do próprio Ser, que desperta a génese criativa, esse fulgor vizinho ao êxtase, essa fusão entre o criador e a criação, como se fora a alma a derramar se nas tintas de um pincel, no bico de uma pena, no fio de um cinzel, para encontrar, na Obra, o seu transcendente destino.
Assim é a singular intimidade emocional do Artista no acto de criar, qual ignoto refúgio, moldado em insondáveis patamares de sentimentos e abstrações, a que só eleitos têm acesso.
Nesse refúgio vive o Artista e nasce a Arte. Um refúgio em que a Arte assume um dom quase divino: o milagre de ressuscitar, se porventura faz história; o sortilégio de criar, se porventura faz Poesia.
Por isso a Arte nos humaniza.
E, nessa dádiva de humanização, sublima-se a perenidade do Ser, face à transitoriedade do Ter.
Pois que a Arte não é, necessariamente, um espelho para reflectir as agruras deste nosso mundo; bem ao contrário, é um cinzel que nos ensina a esculpi-lo, é um escopro que nos facilita a moldá-lo.
Mesmo que, na Arte, a sua verdade possa ser tudo cujo contrário é igualmente verdadeiro».
Editorial de Mário Assis Ferreira
Esta edição de Natal já está à venda nas melhores livrarias do País.


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